Banalidades, aleatoriedades, inutilidades, letras de música que não viraram música e alguma poesia

segunda-feira, 19 de junho de 2017

[SONHO DE UMA MANHÃ DE INVERNO]

Atravessei aquela manhã de inverno como num sonho
o nevoeiro intenso
a grama úmida derretendo geada sob os pés
o silêncio quase absoluto

quase a b s o l u t o

Um cachorro enrosquilhado dormindo na varanda de uma casa
a fumaça saindo de uma chaminé
e do focinho do cachorro dormindo
como o sono querendo sair de mim
absolutamente sem nenhuma pressa

s  e  m  p  r e s s a

Um cavalo solitário pasta tristemente
não sei se realmente está triste ou se sou eu
que o vejo assim

Talvez seja um cavalo feliz vendo a mim
que caminha tristemente
querendo acordar de um sonho
onde há um cavalo que pasta
simplesmente

Como a humanidade caminha
sob o nevoeiro do horizonte invisível
sem saber exatamente o que virá pela frente
eu fui

f u i . . .

Permaneci naquela manhã como numa pintura
pinceladas frias de branco cinza desesperança
de um pintor desconhecido

Não se sabe quanto vale o quadro
pendurado
em um prego enferrujado
na parede suja de uma casa pobre
de um peão solitário
acumulando segundos
dias
e mofo

Eu
o cachorro
o cavalo
a fumaça da chaminé 
congelados 
pela frio
pelo tempo
pela tinta

O peão não sabe
se o quadro é triste
porque o pintor assim o quis
ou se é ele que assim o vê
e sente
enquanto toma café
e tenta acordar do sono
em uma manhã de inverno

Lá fora
seu cavalo
pasta
provavelmente

Epitáfios

Adeus, amigos.
Há Deus, amigos?
Há amigos, Deus?
Ah, deu.