O trabalho é movido pelo capital que, por sua natureza intrínseca, estimula o consumo, porém muitas vezes um consumo desenfreado, ao invés de um consumo consciente. A utilização de conhecimentos da psicologia e de descobertas recentes das neurociências sobre o funcionamento do cérebro humano tem levado agências publicitárias e empresas a investirem cada vez mais no público infantil e juvenil como potenciais consumidores. A propaganda massiva e onipresente, além de fomentar um consumo vazio e degradante, deturpa, ao mesmo tempo, desde cedo, o valor do trabalho como mero meio para aquisição de bens muitas vezes fúteis e desnecessários. Há uma indústria que investe pesadamente para tornar-nos reféns de nossos próprios desejos. O avanço tecnológico torna obsoletos um celular, computador ou televisão em plenas condições de uso em alguns meses. Nunca se produziu e se consumiu tanto. Como conseqüência, nunca se trabalhou tanto. A dedicação total à empresa, cumprimento de metas impossíveis, o aprimoramento constante exigido pelo empregador, tudo reflete uma mentalidade voltada ao consumo que cria instabilidade constante no emprego. Trabalha-se para comprar, mas reclama-se da falta de tempo. Na verdade, o ato de compra torna-se, assim, um valor absoluto, retirando do trabalho a possibilidade de realização pessoal e transformação reais do mundo e da natureza para melhor. Um sintoma disso é que grandes templos do consumo, os shoppings centers, são opções de lazer das famílias nas grandes cidades. O que aconteceu com os zoológicos e o futebol nos terrenos baldios? Os leões e as araras dormem. A bola já não faz mais gol e não quebra mais vidros de vizinhos. Confunde-se lazer com consumo. E lá vamos nós. Faz-se, portanto, necessária uma reavaliação crítica do que entendemos atualmente como “trabalho” e “consumo”.
Trecho do artigo "Senta no shopping e chupa", de Daniel Punk, traduzido do original, publicado no New York Times, edição de hoje 24/11/12 (só que não)