Banalidades, aleatoriedades, inutilidades, letras de música que não viraram música e alguma poesia

quinta-feira, 25 de julho de 2013

[Uma semana com José Gonçalves]

funcionário, paletó e gravata, sapatos engrax(ç)ados.

Segunda-feira:
Eu me levanto às sete. Escovo os dentes, lavo o rosto e faço a barba. Átila trouxe um balde de plástico, toda noite enchemos de água no bar. A privada do depósito está sem água. Vou ao bar tomar média, pão com manteiga. Ando dois quarteirões, espero o ônibus. Desço no Largo. Subo ao escritório e bato o ponto, 8:30 exato. Vou à minha mesa, tiro a capa da máquina, abro as gavetas, começo a trabalhar. Os rostos no elevador, no escritório, na rua, são os mesmos, trabalho sozinho, com um milhão de espelhos.

Terça-feira:
Eu me levanto às sete horas. Escovo os dentes, lavo o rosto e faço a barba. Vou ao bar tomar café, média, pão com manteiga. Ando dois quarteirões, espero o ônibus. Desço no Largo. Subo ao escritório e bato o ponto, 8:30 exato. Vou à minha mesa, tiro a capa da máquina, abro as gavetas, pego os cartões e começo a trabalhar.

Quarta-feira:
Eu me levanto. Ando dois quarteirões. Subo ao escritório. Tiro a capa da máquina. Começo a trabalhar.

Quinta-feira:
Eu me levanto, ando, entro no escritório, trabalho.

Sexta-feira:
Levanto, ando, entro, trabalho, saio, durmo.

Sábado:
Todo sábado eu pego uma puta.




[José Gonçalves é o personagem principal do romance Zero, do qual roubei este trecho, de Ignácio de Loyola Brandão. A edição que tenho é a sétima, publicada em 1980,autografada pelo próprio (o autor, não o personagem)]

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