Walter Benjamin falou sobre isso. Ele falava na perda da
"aura" da obra artística na era da reprodutibilidade. Ele escreveu
sobre isso bem no auge da expansão do cinema e no momento em que a fotografia
já estava consolidada como uma nova forma de arte e expressão humana. Deveria
reler esse texto, mas agora tenho que escrever sobre ele. Paradoxo. Fico com o
que me lembro.
O quadro da Monalisa está no Museu do Louvre, na França. Nunca o
vi e talvez nunca o verei pessoalmente. No entanto já o vi tantas vezes que ele
já se tornou parte do meu e do imaginário de quase todas as pessoas que habitam
este mundo. Paradoxo da reprodutibilidade. Vi mas não vi.
Em uma dessas revistas semanais (Época, Istoé, não me lembro qual
foi) havia uma matéria sobre uma exposição de Van Gogh. A imagem que abria a
matéria era uma reprodução do quadro "A Noite Estrelada". Uma coisa
linda. A legenda da imagem da revista chamava atenção exatamente para o fato de
que ela era uma reprodução e de que nenhuma tecnologia poderia substituir a
experiência de estar ali, em frente daquela imagem e ver o maravilhoso efeito e
vida que as combinações e fluências de cores do quadro proporcionam. Ou seja, a
reprodução não é, nem nunca será, a coisa em si.
Da mesma forma pode-se pesquisar na Internet e facilmente
encontrar a imagem do quadro de Van Gogh (com inúmeras qualidades de
reprodução, algumas até alterando a qualidade de tonalidades) e depois
colocá-la como plano de fundo da área de trabalho do seu computador. Uma boa
ideia, vou fazer isso. No entanto será sempre uma reprodução, nunca a original.
A aura foi perdida. Em troca disso, ganhamos o acesso a ela. Paradoxos.
Algo mais ou menos parecido aconteceu com a invenção da prensa por
Gutenberg que tornou possível a reprodução mais rápida (antes feita manualmente
por monges) da Bíblia. A consequência, na época, foi a Reforma Protestante, que
não por acaso, protestava a liberdade de interpretação da palavra divina.
Democratiza-se a liberdade de interpretação que, naturalmente,
qualquer produção humana possui. No entanto, ao mesmo tempo, não a possuímos mais. A
não ser como símbolo.
Tenho colada no meu contrabaixo a famosa imagem de Marilyn Monroe
na qual ela tem sua saia levantada pela ventilação do metrô de Nova York. Cena
icônica do cinema. Para mim, entre outras coisas, fundamentalmente ela
representa o desvelamento de uma verdade que existe e é desejada e que se
mostra, não por completo, apenas em sua latente possibilidade. Como é natural
das imagens, essa interpretação ultrapassa o sentido original. Andy Warhol se
apossou dessa possibilidade, fatiou e esquartejou Marilyn em muitas, infinitas
Marilyns. Tornou, também, verdade em verdades, infinitas e múltiplas. No
entanto, sempre iguais. Reproduzíveis. Verdades industriais, embaladas a vácuo
e prontas para consumo.