Foda-se sempre foi mais ou menos como uma filosofia de vida. Algo como: de onde vim, para onde vou? Resposta: "foda-se!" Tenho que enfrentar o mundo, a sociedade e ainda uma banca com cinco doutores? Penso: "foda-se!" E daí vou indo.
Banalidades, aleatoriedades, inutilidades, letras de música que não viraram música e alguma poesia
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Bebendo cerveja num bar
Até mesmo quando se acha que não se está fazendo nada se está produzindo alguma coisa. Para o bem estar geral da nação e do sistema. Enquanto bebo uma cerveja, sentado num bar, o cara do bar já está lá para faturar. Alguém para alugar o lugar. Enquanto isso, garanto o emprego de publicitários imbecis e sem talento e de mulheres que apenas tem peitos e bundas para vender. As luzes estão ligadas, claro. Me lembro da conta que esqueci de pagar. Merda. O próprio banco em que sento, de tanto sentar, uma hora vai quebrar. Assim como qualquer banco em que você depositar. O cara mal barbeado do meu lado me lembra que estou há dois meses sem me barbear. Minha Prestobarba... Onde estará? Sei lá. Tenho que comprar. Todos fedemos (precisamos de sabonetes, detergentes, xampus, condicionadores, barbeadores, pasta de dente, perfumes do Paraguai...). Sempre tem alguém para lucrar. Alguma coisa para fazer, você vai dar. Nem que seja um emprego para alguém consertar tudo que você quebrar no bar. Sempre alguém para empregar. Algum crítico literário para dizer-me que não sei rimar. Alguém para me pedir empestrado e nunca mais pagar. Quando estou saindo, me lembro que não tenho mais carro. Tenho que caminhar. Pelo menos não tenho que pagar IPVA. Mas pago por caminhar, sabendo que meu sapato, já gasto e furado, mais cedo ou mais tarde, vai se entregar. Mas eu vou lá, caminhando e pensando que em algum lugar há um sacana esperto roubando o imposto que eu pago, simplesmente por estar fazendo nada, bebendo cerveja num bar.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Velho bar
In memoriam Raimundinho e Nego Có
Quando um bar fecha suas portas
Quando um bar fecha suas portas
definitivamente
é como se uma igreja gótica medieval
ruísse do dia para a noite.
Ficamos procurando
perplexos
nos escombros
bolas de sinuca e cartas de pôquer,
carteiras de cigarro,
fuga, refúgio,
amigos, abrigo,
carteiras de cigarro,
fuga, refúgio,
amigos, abrigo,
restos das noites de sexta,
dos jogos de futebol na TV,
das ressacas benditas,
das filosofias, baratas,
das filosofias, baratas,
das conversas jogadas fora
nas madrugadas quase infinitas
do santo templo.
É como se tudo isso nunca mais fosse existir:
tudo que um dia tínhamos como verdadeiro e eterno,
dissolve-se tal qual pedras de gelo num copo de uísque
num dia de verão.
Subitamente, sem referência,
ficamos assim meio perdidos,
vazios como garrafas sem bebida,
plebeus sem água benta nem comunhão.
Quando o luto termina
(quanto tempo levará?),
não nos resta outra coisa a fazer
senão reerguer dos cacos
um novo velho bar.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Meu velho All Star
meu All Star já tá tão gasto
destruído fodido coitado
tão maltratado
pelos anos e por mim
gasto de tanto andar
de lá pra cá de cá pra lá
pelos becos da vida
pela pedra que não gasta
pela noite que não passa
pelo dia que nunca vem
gasto por assistir sempre as mesmas notícias no Jornal Nacional
as mesmas pessoas sem talento fazendo sucesso
pessoas que não mudam
não tem jeito
pessoas que mudam a toda hora
e que não me deixam em paz
pelas pequenas derrotas diárias
pequenas discussões
dentes cariados
planos frustados
cruzados irreais
prestações vencidas
noites mal dormidas
subidas e descidas
meias verdades
toda realidade
amigos com prazo de validade
aos 30 anos
também me sinto meio gasto
mas não há outra alternativa
vou comprar outro All Star
continuar
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