Depois
de três quase intermináveis aulas eles se reencontram no intervalo. Tempo quase
suficiente para tomar um café fraco, caro e cretino na cantina, dar uns beijos
e amassos entre uma tragada e outra de cigarros made in Paraguay.
Ela
começa:
−
Te amo.
−
Aham.
−
Como assim "aham"?
–
Como assim o quê?
–
Tu não me ama?
–
Aham.
–
Então porque fica aí como um idiota repetindo "aham"?
–
Sei lá... é só isso que tu tem pra me dizer?
– Quer dizer que não eu posso dizer que te amo? Porra, se é uma das coisas
mais sublimes que uma pessoa pode dizer pra outra! Tu ainda fica reclamando!
–
Não sei... acho que as palavras perdem alguma coisa quando são muito usadas. Já
não significam mais o que eram.
–
Tu e tuas teorias idiotas.
–
Vai dizer que não é? As pessoas falam "te amo" pra mãe, pra vó, pro
namorado, pras amigas, pros amigos, pro cachorro, pro gato, pro papagaio. Pro
diabo a quatro! Isso umas 500 vezes por dia! Se bobear dizem "te amo"
até pro carteiro que simplesmente tá fazendo o serviço dele trazendo o Sedex.
Acho que deviam inventar outra palavra para o amor.
–
Tu é um chato, isso sim.
–
Aham.
Ele
diz isso e sai, se afastando dela, enquanto que com um ágil movimento dos dedos
médio e polegar atira a guimba de cigarro longe.
–
Péra aí! Aonde tu vai?
–
Voltar pra aula.
–
Mas ainda não terminou o intervalo.
–
Tá quase.
–
Me escuta! Eu só queria que tu soubesse que eu te amo. Só isso. Tu não acredita
em mim?
–
Quero acreditar. Mas quando se repete uma coisa tanto, fica parecendo aquela
teoria do Goebbels. Tá ligada? Uma mentira repetida 1000 vezes se torna verdade
e tal. Mas continua sendo uma mentira.
–
Então o que mais tu quer que eu diga?
–
Desculpa, eu também não sei...
Eram
10h30. Fim do intervalo.
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