Banalidades, aleatoriedades, inutilidades, letras de música que não viraram música e alguma poesia

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

[should I stay or should I go?]

Fonte da imagem: não sei
Texto do balão: Shakespeare e eu


para Luanna Formentyn
que é e não é


Ela não sabia se ficava
ou se partia.

Se ficasse,
permaneceria
sendo?

Se partisse,
ficaria
além?

Realidades,
(im)possibilidades.
Antes delas,
os poréns. 

As respostas não estavam nos livros escolares.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Oração dominical

... e livrai-nos das bactérias
e da programação dominical da televisão brasileira.
Amém.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Fonte da imagem: http://deisisanches.blogspot.com.br/2010/11/palavra-tem-poder.html


Palavraesperma
no começo era ela
na boca de Deus
no princípio de tudo.

Palavra abençoada,
palavra que nos é dada
e nem é cobrada.
Palavra grátis
palavra herdada.

Entre o sim e o não
uma imensidão
de sentidos não ditos
na palavra vazio.

Palavra incentivo
na voz de um amigo,
nas páginas de um livro,
trazendo esperança
a um dia triste sem sol.

Palavra que informa
que deforma
que nos exprime
e nos espreme
entre letras e fonemas.

Palavra que nos dá nome e sobrenome,
palavra que nos torna humanos.



Poema sem título, feito às pressas, que escrevi especialmente para ser lido na abertura da edição deste ano da Feira do Livro da escola Geraldo Antônio Telesca.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Dê-me um título... não consigo pensar


As ideias estão mortas e enterradas. Nas escolas, um grande cemitério existe lá. Com lápides feitas em fórmica e tudo mais. Mas ninguém sabe o que está escrito nelas porque ninguém as lê. Caralhos e bucetas desenhados a lápis. Em breve teremos chips implantados em nosso sêmen. Neles, todas as informações de que precisamos. E elas serão atualizadas a cada nove meses. Automaticamente. Dependendo de qual versão do Windows você puder pagar. Então só teremos que andar por aí, trabalhando, trabalhando, comprando, comprando, tomando Coca-Cola, assistindo TV, cortando o cabelo no estilo da moda, assistindo filmes ruins, músicas, idem. Curtindo, compartilhando. Comendo McLanches. Felizes? Ah, já ia esquecendo: fodendo, fodendo. Reproduzindo o que querem que reproduzamos. O maior pensador que existe na atualidade é o Sr. Google. O Sr. Google pensa por nós. Rogai por nós, Sr. Google. Rogai por maus pensadores, e na hora da nossa morte intelectual. Amém.

A sétima ressaca

No fim do sexto dia de porre
     atirado     num        canto
(na cama?)
(no coma?)
        vomitado   
            desnorteado           
                     abençoado               
completamente sem forças
                 nem motivação
                          ressuscitei.

No fim do sexto dia de porre
     ouvi uma voz distante 
que dizia:
- Desgraçado! Mas você não morre nunca, porcaria?

No fim do sexto dia de porre
                         eu vi
um enorme, iluminado, brilhante
 e lindo
 anjo                 parado
     pairando 
              ali
a 7 palmos acima da minha TV
.

No fim do sexto dia de porre
          nada não havia
       s   e   n   t   i   d   o
              na verdade
      nunca
              tem
                   .

Pensei: Já é Carnaval?
Ou alguém realmente se importa
mesmo que seja

do além
?

Falei:
- Porra, por que tu não te mexe
   e me traz uma aspirina ou um paracetamol?

Acho que a Terra continuava
no mesmo lugar
se movendo
continuava sendo
um lugar horrível
para se viver.

Mas
(pelo menos)
no fim do sexto dia de porre
na sétima ressaca
descansei
...

domingo, 12 de agosto de 2012

Abrigo

Chove em Cangas
e dentro da minha cabeça
e do meu copo e da palavra.
A chuva lava e leva o sentido.
Se ao menos lavasse o quintal
e levasse todo o mal,
haveria
abrigo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Bebendo cerveja num bar


Até mesmo quando se acha que não se está fazendo nada se está produzindo alguma coisa. Para o bem estar geral da nação e do sistema. Enquanto bebo uma cerveja, sentado num bar, o cara do bar já está lá para faturar. Alguém para alugar o lugar. Enquanto isso, garanto o emprego de publicitários imbecis e sem talento e de mulheres que apenas tem peitos e bundas para vender. As luzes estão ligadas, claro. Me lembro da conta que esqueci de pagar. Merda. O próprio banco em que sento, de tanto sentar, uma hora vai quebrar. Assim como qualquer banco em que você depositar. O cara mal barbeado do meu lado me lembra que estou há dois meses sem me barbear. Minha Prestobarba... Onde estará? Sei lá. Tenho que comprar. Todos fedemos (precisamos de sabonetes, detergentes, xampus, condicionadores, barbeadores, pasta de dente, perfumes do Paraguai...). Sempre tem alguém para lucrar. Alguma coisa para fazer, você vai dar. Nem que seja um emprego para alguém consertar tudo que você quebrar no bar. Sempre alguém para empregar. Algum crítico literário para dizer-me que não sei rimar. Alguém para me pedir empestrado e nunca mais pagar. Quando estou saindo, me lembro que não tenho mais carro. Tenho que caminhar. Pelo menos não tenho que pagar IPVA. Mas pago por caminhar, sabendo que meu sapato, já gasto e furado, mais cedo ou mais tarde, vai se entregar. Mas eu vou lá, caminhando e pensando que em algum lugar há um sacana esperto roubando o imposto que eu pago, simplesmente por estar fazendo nada, bebendo cerveja num bar. 



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Velho bar

                             In memoriam Raimundinho e Nego Có

Quando um bar fecha suas portas
definitivamente
é como se uma igreja gótica medieval
ruísse do dia para a noite.

Ficamos procurando
perplexos
nos escombros
bolas de sinuca e cartas de pôquer,
carteiras de cigarro,
fuga, refúgio,
amigos, abrigo,
restos das noites de sexta,
dos jogos de futebol na TV,
das ressacas benditas,
das filosofias, baratas,
das conversas jogadas fora
nas madrugadas quase infinitas
do santo templo.

É como se tudo isso nunca mais fosse existir:
tudo que um dia tínhamos como verdadeiro e eterno,
dissolve-se tal qual pedras de gelo num copo de uísque
num dia de verão.

Subitamente, sem referência,
ficamos assim meio perdidos,
vazios como garrafas sem bebida,
plebeus sem água benta nem comunhão.

Quando o luto termina
(quanto tempo levará?),
não nos resta outra coisa a fazer
senão reerguer dos cacos
um novo velho bar.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Meu velho All Star

meu All Star já tá tão gasto
destruído fodido coitado
tão maltratado
pelos anos e por mim
gasto de tanto andar
de lá pra cá de cá pra lá
pelos becos da vida
pela pedra que não gasta
pela noite que não passa
pelo dia que nunca vem
gasto por assistir sempre as mesmas notícias no Jornal Nacional
as mesmas pessoas sem talento fazendo sucesso
pessoas que não mudam
não tem jeito
pessoas que mudam a toda hora
e que não me deixam em paz
pelas pequenas derrotas diárias
pequenas discussões
dentes cariados
planos frustados
cruzados irreais
prestações vencidas
noites mal dormidas
subidas e descidas
meias verdades
toda realidade
amigos com prazo de validade
aos 30 anos
também me sinto meio gasto
mas não há outra alternativa
vou comprar outro All Star
continuar


terça-feira, 12 de junho de 2012

Nenhum pássaro na mão

Minha sorte do dia no velho Orkut: "Mais vale um pássaro na mão que dois voando".
Para que vou querer um pássaro? Deixe-os no céu, livres pra voar e, eu, aqui, no chão, livre para me ferrar!


segunda-feira, 21 de maio de 2012

fim de festa

depois de você ter jogado todos os pratos
cheios de comida no chão
e ter
quebrado as janelas
e ter
tocado as campainhas dos idiotas
e ter
pronunciado palavras horríveis e verdadeiras
e ter

entrado junto com a multidão de ensandecidos--
então veio o grande e tanquilo momento:
sentado, sozinho e me servindo um trago
em paz.


o mundo é melhor sem vocês.

apenas as plantas e os bichos são
verdadeiros companheiros.


bebo por eles e com
eles.


eles esperam enquanto encho seus
copos.









































Poema de Charles Bukowski, originalmente publicado em You Get So Alone At Sometimes That It Just Makes Sense (1986), ainda não publicado no Brasil. A tradução tosca é minha mesmo (se for utilizá-la, respeite os direitos autorais). Essa imagem do original foi retirada do site http://authenticbukowski.com/ 

Conheça mais sobre Bukowski em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_bukowski
http://velhobukowski.blogspot.com.br/


terça-feira, 8 de maio de 2012

Múltipla escolha

A saliva que ainda não saiu da tua boca pode ser:

a) beijo molhado
b) escarro premeditado

Questão anulada após análise dos recursos. As duas alternativas estão corretas pois ambas se complementam entre ti.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Últimos dias de abril

Últimos dias de abril
que venha maio junho julho agosto
que venha o frio
tosse catarro gripe vazio
não passo mais o inverno sozinho
tenho minha garrafa de vinho
que vá tudo à puta que pariu.

sábado, 24 de março de 2012

Como as novas tecnologias podem influenciar a poesia

Dou um ctrl + C na minha vida
e um ctrl + V na sua.
Você faz o mesmo.
Deixamos as cópias nos nossos lugares
e vamos navegar pela Internet
até chegarmos ao cume do Everest
e contemplarmos o pôr do sol
no Youtube.

Capitalismo II


O Ministério da Saúde adverte:
O uso deste produto não torna o usuário um vencedor.

Sou a própria prova disso.



Capitalismo I


  Quem gosta de brincar com fogo  

  tem mesmo é que ser bombeiro.  


Encontro casual

Não vire o rosto
isso só demonstra o desgosto
que não é tão antigo
mas verdadeiro como uma pedra.

Não finja que nada
não esqueça de tudo
impossível não rever
memória-absurdo.

Nunca mais seremos apenas
dois corpos num encontro casual.
Nunca mais o vácuo
entre nós
existir
ar.

Quando passares por mim
olhe nos meus olhos
no meu cansaço
olhe bem dentro do tempo
a tempo.

terça-feira, 20 de março de 2012

Uma dose para Caio F.



Caio Fernando Abreu foi um jornalista e escritor gaúcho. Nasceu em 1948 e faleceu em 1996, aos 47 anos. Para conhecê-lo um pouco melhor, recomendo uma visita ao site oficial.
P.S.: não encontrei créditos para a imagem (internet é foda!).

domingo, 18 de março de 2012

Erra uma vez

   nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
    já cometo duas três
quatro cinco seis
   até esse erro aprender
que só o erro tem vez



Poema de Paulo Leminski. Achei no livro Poesia marginal, da editora Ática, coleção Para gostar de ler. O ano de publicação fico devendo porque a página onde deveria constar essa informação estava rasgada.





Doutorado

Se é para fazer merda
me chamem
tenho doutorado.



Constelação de imbecis

Pra que tantas estrelas no céu?
Deve ser pra uma cair de vez em quando
e algum imbecil achar que está com sorte.
Tantas estrelas no céu
e tenho apenas poucos desejos.
Tantas estrelas no céu
contemplando mais um imbecil aqui na Terra.




sábado, 17 de março de 2012

Os porquês dos nãoseioquês

Acho que esta é que deveria ser a primeira postagem. Na verdade, estou começando como blogueiro (que cara atrasado!) e fiz algumas postagens antes para testar e brincar um pouco com a formatação e os recursos do Blogger.
Portanto, agora sim: sejam bem-vindos(as) a este (re)canto obscuro e mofado do mundo cibernético!
Aqueles que me conhecem pessoalmente sabem que tenho uma cabeça gigantesca. Literalmente! E não sei muito bem o que tem dentro dela. Uma coisa que tenho certeza que há lá dentro é sangue. E como tem! Certa vez, quando eu era guri, aprontei uma para meu irmão e ele me cravou uma estaca de madeira na cabeça. Sangrou que foi uma beleza! Por umas duas horas pelo menos. Mas há outras coisas também. Coisas que, apesar do tamanho da minha cabeça, às vezes simplesmente não cabem mais lá e precisam ser colocadas para fora.
Como não sou uma pessoa que goste de falar muito e meu irmão nem sempre está disponível ou disposto a abrir meu crânio, coloco essas coisas no papel. Ou em acordes distorcidos de guitarra. Por isso o blog, entenderam? Aqui vocês vão encontrar banalidades, aleatoriedades, inutilidades, letras de música que não viraram música e alguma poesia. Tudo meio que misturado com sangue semicoagulado.
Se gostarem, que bom! Comentem e divulguem para outras pessoas. Vou ficar bem faceiro. Se não gostarem, bem, já sabem, né? Fodam-se!

sexta-feira, 9 de março de 2012

tic tac

 o relógio tic
 o relógio tac  

tictactictactictac
tictactictactictac

 nem ouço meu coração
 no mesmo ritmo

 vontade de jogar essa merda no lixo
 como se fosse adiantar
 ou atrasar alguma coisa  



Juros compostos

Os dias passam.
Às vezes muito quentes, às vezes muito frios,
chatos, monótonos, excitantes, inacreditáveis.
Uau!
Imperdoáveis.
Às vezes, nem isso.

Suaves prestações
com as quais vou pagando
o Divino Ditador
por algo que nem sequer queria.

sábado, 14 de janeiro de 2012

02h16

Mas que mundo chato de merda!


O galo tem hora pra cantar,


o relógio tem 24 horas pra marcar.


Poucas vezes pude ver o pôr-do-sol


dentro de mim.


A água leva não sei quantos minutos pra ferver,


sei lá quantos mais pra congelar.


Mas há um tempo exato pra tudo...


O ônibus tem hora pra chegar e partir.


Te encontrar amanhã às 21h15,


continuar vivendo às 14h.


Em ponto.






Garantir que conseguirei:


- evitar cáries;


- conseguir consulta pelo SUS antes de morrer;


- não contrair um câncer antes dos 50;


- não ficar sem cigarros de madrugada;


- não dormir na rua bêbado;


- não perder o emprego (e a dignidade);


- dizer "bom-dia" de manhã e não à noite;


- não peidar na frente de estranhos;


- não pisar na grama;


- lavar as mãos depois de cagar;


- citar Marx na frente de um liberal;


- citar um liberal na frente de um marxista;


- tomar banho pelo menos aos sábados;


- alimentar os gatos e cachorros;


- fazer caridade;


- dizer "amém", "por favor" e "obrigado";


- plantar uma árvore, escrever um livro e sei lá mais o quê;


- não ficar acordado até tarde;


- colocar o celular a despertar;


- acordar às 7h;


- tomar banho;


- ir trabalhar.




O calor do Sol chega sempre oito minutos atrasado.


Posso dormir agora?